Minha mãe tinha me dito
pra procurar a minha árvore e conversar com ela. Sinceramente, eu tava muito
puta, com raiva e triste pra ir ao meio da Redenção ou do Moinhos procurar a
tal da árvore, se pudesse não sairia do quarto, ou sairia dele e iria para outra
dimensão do espaço tempo.
Então hoje aconteceu.
Tinha acabado de almoçar e resolvi deitar um pouco num dos bancos em frente à
faculdade. Deitei simplesmente até esperar o horário pra ir pro trabalho. Deitei sem
nenhuma pretensão, queria descansar em um lugar tranquilo, sem perturbações,
sem barulhos, sem consumo. Então quando deito e abro os olhos, vejo minha
árvore. Bem em cima de mim, diante dos meus olhos. Pura ironia do destino. Ri
mesmo, eu que não queria saber de procurar árvore me dei de cara com uma, e o
mais irônico é que sempre passei por ela todos os dias, mas nunca cheguei perto
de deitar e conversar com ela.
Já que estava nessa
situação, resolvi me permitir pensar na vida, relaxar meus ombros tristes e ver
no que ia dar. Estava descrente de qualquer resposta ou sinal de Deus, porque
eu já tinha pedido tantos. Pedia que no meio do caminho houvesse uma pedra ou
no meio do sonho um sinal, mas nada havia acontecido até então.
Quando permiti minha
mente para sentir, o incrível e maravilhoso aconteceu.
Comecei a conversar com
alguém. Com certeza. E eu sabia com todas as forças e fé que ainda me restava
que estava conversando exatamente com a árvore.
A Árvore era muito
bonita; tinha folhas muito verdes e a luz do Sol amarelava e fazia brilhar cada
galho. Era lindo. Fiquei olhando o tempo todo para ela, fiz perguntas, tive a
sorte de receber respostas.
Ela me disse que temos
duas mentes, uma racional e outra emocional, e que eu estava olhando muito só
com a mente racional para a minha vida. Ou então, só olhava com a emocional em
determinados momentos, e isso me fazia sofrer. Ela então me disse que eu devia
ser mais como ela, uma árvore. “Milhares de pessoas passam por mim diariamente,
poucas tocam, falam comigo, a maioria passa por aqui como se eu não existisse.
E o que eu faço em troca? Nada. Estou aqui há muitos anos, meus galhos
cresceram, estou forte, bonita, também com galhos secos, mas com folhas vivas e
muito verdes. Vês?”. E continuou dizendo.
Disse que eu deveria cuidar do meu coração agora, que não era pra pensar
tanto no futuro, até porque “a sua conta está errada, minha querida. Você está
racionalizando demais o seu futuro, você excluiu toda emoção e sentimento na
história. Sem elas, você não tem história”. Disse para ter calma nos olhos e no
coração. Me disse também que não resolveria todos os meus problemas, que não daria
uma solução mágica, que ainda sentiria dor, raiva e tristeza. Mas me disse
isso. Calma nos olhos, cuida do seu coração. As coisas vão ficar bem. Me disse
para pensar sempre em árvores e em crianças, que são belas. Então perguntei a
ela: “Para que servem teus galhos?”, ainda devia estar incrédula, ainda devia
procurar sentido nas coisas. A Árvore me respondeu com a naturalidade e amor de
uma criança: “Porque tem vida!” . Isso me emocionou bastante, porque sempre,
sempre vi os galhos das árvores clamando, chamando por vida. Nunca olhei pra
eles exatamente como eles são na sua origem: Vida. Existem porque tem seiva,
tem força, tem energia ali que extravasa e faz os galhos crescerem.
Depois disso, a Árvore continuou
me ensinando coisas. Para ser leve, que a vida não é uma equação, tem outra
justiça, outra verdade muito além e bonita das coisas que vemos no dia a dia.
Me disse também outra coisa tão bonita: “Árvores são mães que estão longe dos
filhos. Nós lhe damos sombra quando precisam, conselhos, belezas simples e
radiantes como cada folha nossa. E nós te abraçamos e curamos as coisas que lhe
afligem”.
Nesse momento, me senti
abraçada. Senti meus olhos sendo abraçados também. Senti amor, não vi mais
motivo de dor. Olhei para os meus pés nesse instante e vi um gafanhoto gigante,
gordo e imensamente verde. Na ponta dos pés. Dizem que é sinal de boa sorte,
sorri de novo e agradeci.
Me levantei, me senti
amada. E cada árvore que encontrava no caminho, era mãe que me dizia que ia
ficar bem, que podia caminhar sem medo. Que a vida é linda. Pois há vida em
cada grão dela.