terça-feira, 23 de junho de 2015

Dos sonhos

É engraçado como às vezes as coisas são escritas não para serem lembradas, mas para serem simplesmente esquecidas ou perdoadas.
Pensando nas coisas que escrevo, noto que escrevo pouco; por desatenção ou soberba, as palavras vão sendo ditas, mas não digeridas nas folhas de papel. 
Hoje à tarde tive um sonho tão nítido (posso chamá-lo assim?). Sonhei que me via no futuro. E  vi uma mulher. Uma mulher salgada, não a menina doce que sou hoje. Essa mulher era lúcida, mas ainda de poucas rugas. Ela falava português, espanhol, francês, inglês, chinês e polonês - e falava porque finalmente havia entendido que as línguas só importam quando se tocam, que mais que tudo ela as procurava porque precisava de todas, todas as pessoas, todos os tons e fugas que as palavras criam no espaço.
Essa mulher salgada não acreditava em sorte. Ela olhava como quem sabia que levava a vida às vezes por demais a sério, mas subitamente também sabia se desarmar por inteiro e sorrir.
Ela aprendera que não deveria dar seu coração duas vezes a mesma pessoa. E que a tristeza fazia brilhar outras coisas.
Era capaz de grande ternura: pelos outros, por si mesma. E só por ser capaz de se amar tanto que nela resistia a audácia de ir ver - tocar o bendito do maldito fogo, se sentir no escuro, vestir a própria pele como o hábito sagrado dos que guardam as parábolas dos céus. O hábito: a pele. A pele: forma, linha, cor e conteúdo de amor. 

("que coisa bela amar" - me lembrei de uma música que tinha essa frase. E amadurecer. E lucidez. E olhar.)

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