Os rios recebem, no seu percurso, pedaços de pau, folhas
secas, penas de urubu
E demais trombolhos.
Seria como o percurso de uma palavra antes de chegar ao
poema.
As palavras, na viagem para o poema, recebem nossas
torpezas, nossas demências, nossas vaidades.
E demais escorralhas.
As palavras se sujam de nós na viagem.
Mas desembarcam no poema escorreitas: como que
filtradas.
E livres das tripas do nosso espírito.
Manoel de Barros. Ensaios fotográficos. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 21.
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