quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Maria

Hoje eu acordei tarde e como um louco procurei meus óculos. Estavam no chão, entre as roupas, entre os papéis de ontem. Então me veio uma gota que queria se transformar em verso, em história. Mas eu tinha acabado de acordar, zonzo, tomei um banho e passei um café. Agora não sei bem se o que ouvi era exatamente assim - temo que a água tenha lavado a ingenuidade do meu canto. Mas eu te falo Maria. Chega perto.
Escrevendo, eu não pude ver minha palavra. Minha mão escondia o prenúncio de. De. De. Me esgueirei, mas sou canhoto, Maria. Tentei entender pelo movimento do pulso, mas sempre que olhava eu ficava hipnotizado por alguma coisa entre meu nariz e a ponta do lápis. Será que recebi um espírito, Maria? Minha nossa, nem eu sei. Minha boca queria suspirar teus versos. Te sentia aqui e me lembrei do dia que te escrevi um bilhete. Tu viste, sentiste minha rima? Não, Maria. Tu não entendes nada. Joana também não entende nada. Nem o Paulo, o Paulo! Ele também não entende.
Mas sim, me deixa continuar sem perder o fio da meada. Eu não sabia o que escrevia. Seria a alegria de uma copa do mundo? Voltaria a ser criança? Nada. Eu nunca sentira algo assim. Tudo me veio ao lápis – meus desejos, os amores de esquina, os bares que cuspi – sem a raiva. Acho que até mesmo sem amor. Teria eu morrido, Maria? Meu ronco não acorda nada. Me ficou um gostinho de café na língua. Desejei a loucura da nossa adolescência, quando eu sentia o gosto azedo do teu café – tua saliva na minha língua. No interior do meu interior. Te escrevo agora sem escrever o que sonhara, é que eu me confundo todo quando me lembro daquele novembro, ai, como eu amo novembro! Novembro ainda guarda o mistério de outubro, a pré-felicidade de dezembro. Tu entendes agora?
Maria, devo ir. Vou ler Gibran e tomar meu café forte. Espero acordar o suficiente para corrigir a carta que faço, cheia, cheia de erros. Mas olhando timidamente pra borra lá da primeira linha...tem tanto sonho, tanta confidência. Não presta atenção no que eu te disse, procura ler o que ficou entre meu nariz e o lápis. Ai, Maria, tu não entendes nada.

Um comentário:

  1. "Não presta atenção no que eu te disse, procura ler o que ficou entre meu nariz e o lápis."
    hummmmmmmmmmmmmmmmm.............
    @_________@

    interessante .-.

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