segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Gabriel

Será que eu posso tirar a casca? “- Não, Lívia, não inventa. Ce nasceu agora e já quer inventar moda?"

Fiz essa pergunta inocente ao meu irmão, vi minha tatuagem descascando e, claro, quem não gosta de tirar casca? De machucado, de fruta... Tá, nem sempre de fruta, meus dedos sempre doem quando começo a descascar tucumãs. Mas foi pergunta simples, e com direito à brincadeira, a convite até. Mas que nada, ele foi direto, não confunda com estúpido, dificilmente ele é estúpido  tirando casos de fome e de dívida. Respondeu e não é que tenha me sentido triste, é que... Não sei. Ele sempre topou fazer essas coisas, ou dava respostas que de tão vazias me tranqüilizavam... Um jeito que me fazia rir. O importante é que até agora não tirei as casquinhas, e o meu irmão tá olhando pra mim. Calma, ele não sabe que falo dele. Não vá abrir a boca. Como imaginar que eu deixaria minha ironia de lado? Sabe, gosto dele. Irritá-lo é uma frustração. Gosto de ver que ele percebe minhas nuances de fala, de corpo. Fico calada por muito tempo e Gabriel vem com um sorriso novo e colorido "Tá, Lívia... (e um riso gostoso, sabe)”. Ri das minhas piadas idiotas de pingüins e gatos obesos. Acima de tudo não se impressiona com os meus pensamentos, e talvez por isso serei grata não eternamente não... mas por muito tempo, que será meu pouco tempo. Não tem coisa melhor que ficar com ele num domingo, nesses domingos que transparecem ser o último de sua vida, talvez pela beleza insustentável do céu. Um último dia sem desespero e profecias. Gosto de observar o corpo de Gabriel dormindo. Tão bonito. Bonito e triste ver que ele cresceu, ele que é ainda uma criança meiga e insegura. Meu irmão nem sabe que escrevi essas coisas, tampouco que tenho um blog. E isso é um grande alívio.

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